A palavra ética, do grego “ethos” significa modo de ser, costume ou hábito. É a parte da filosofia que estuda os valores morais e princípios ideais da conduta humana.
O último Congresso Internacional de Tarô aconteceu em Barcelona/Espanha em 2013. Em função do grande interesse pelo oráculo, fizeram o esforço de estabelecer, por meio de assembléia com os profissionais e estudiosos dos cinco continentes, um código de conduta para nortear a atuação profissional com o Tarô.
Fiz uma tradução livre, originalmente escrita em espanhol, relacionando arquétipos do Tarô que refletem as ideias apresentadas. São temas que avalio como muito importantes para que, regiamente, os tarólogos e amantes do Tarô, tenham um fio condutor com limites bem definidos sobre a sua atuação com este oráculo ancestral, esta tradição e arte divinatória.
Não menos importante, é a minha convicção de que para extrair do Tarô, o que ele pode nos oferecer, é necessário que o façamos por amor e com amor, por meio da nossa verdadeira força intuitiva. E esta força, somente será acessível quando renunciamos ao ego, a vaidade ou a necessidade de convencer a(o) Consulente de algo ou alguma ideia.
Atuar sempre com tranquilidade e a elevada frequência amorosa, apontando para a verdade, o bem, o belo e o justo.
A primeira regra nos lembra sobre o verdadeiro papel de quem utiliza o Tarô para o aconselhamento ou orientação.
A escolha deve ser de quem consulta o Tarô, quem o interpreta agirá apenas como um tradutor amoroso e dedicado ao tema proposto pela(o) Consulente. O Arcano Sem Número do Tarô, o viajor nos remete à ideia da liberdade de ação e de direção, respeitando as decisões dos demais, mantendo seu caminho de forma leve e amorosa.
“Orientamos; os clientes decidem. Acreditamos no livre-arbítrio. Indicamos e não determinamos. Ao interpretar ou traduzir as cartas, vemos a situação e as tendências. A partir daí a Consulente escolhe seguir este fluxo ou traçar outra rota.”
O segundo item deste código de ética, reforça a ideia da diversidade, do livre pensar e agir. “Respeitamos as diferentes formas de pensar ou fazer. Não julgamos interna ou externamente.”
Criticar ou julgar as convicções ou a forma do outro se expressar do outro não é algo razoável em nenhuma área ou circunstância da vida, principalmente durante uma abertura de Tarô onde o amor universal deve permear sempre.
A terceira regra, nos remete ao bom senso diante do outro. “Ajudamos a descobrir e desenvolver ao máximo de potenciais. Quando percebemos um bom momento, orientamos para que se beneficie plenamente. Ao detectar possíveis dificuldades, buscamos alternativas para evitá-las ou superá-las, de forma positiva e suave. Evitamos o determinismo e a negatividade.”
O Papa, Arcano V é o arquétipo do professor e do santo. É o construtor de pontes entre a ignorância e o saber. Tem a didática necessária para a boa compreensão. Sabe como ritualizar e assim, de forma simbólica, realizar o efetivo aprendizado da verdade, do bem e do belo.
O quarto tópico nos remete à comunicação mais adequada para que a(o) Consulente compreenda a sagrada mensagem do Tarô. “Utilizamos linguagem clara e adequada. Comunicamos facilitando a compreensão, evitamos termos técnicos.”
Comunicar é uma das virtudes do Mago, o arcano I do Tarô. O arquétipo da iniciativa e da comunicação. Por meio da sua intuição localiza a palavra certa, com uma flecha que atinge seu alvo, para que o outro obtenha a efetiva compreensão. É assertivo, fala sobre a verdade com amor.
A quinta regra é fundamental para que a ética se realize. Nos lembra que a conversa durante uma consulta ao Tarô é íntima e confidencial. “Confidencialidade. Garantimos privacidade e sigilo do conteúdo do atendimento. Não utilizamos informações do atendimento para ganho pessoal.”
A Sacerdotisa ou A Papisa do Tarô é o arquétipo da sábia, da imaculada. Aquela que, por sua ética, não tem pecados, ou seja, sempre acerta o alvo. O silêncio reflete as maiores verdades. Regular sua mente, para que no momento da consulta ao Tarô, esteja totalmente comprometida(o) com as interpretações dos arcanos, mas ao encerrar a egrégora, também haja o esquecimento, é a ética ideal.
O item de número seis nos remete à responsabilidade de quem utiliza o Tarô para orientar ou aconselhar o outro. “Responsabilidade. Somente as decisões e ações da(o) Consulente mudam o seu futuro. Cabe-nos orientar da melhor forma possível.”
A carta do Eremita, arcano IX do Tarô, representa o arquétipo do velho sábio, aquele que orienta por meio de suas próprias experiências. A(o) Consulente é responsável, por suas transformações, quem está interpretando os símbolos apenas aconselha de forma amorosa e verdadeira. Carl Gustav Jung nos ensina que: “Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar.”
O último tópico expõe um tem importante que é sobre a remuneração quando o trabalho com o Tarô se der de forma profissional. Esse entendimento reforça a segurança tanto de quem se utiliza do trabalho quanto de quem oferece o serviço, pois sua oferta deve ser de forma consistente e profissional, atendendo aos seis itens anteriores. “O atendimento profissional é remunerado. Consideramos aspectos como a duração da consulta, habilidade, experiência ou outros fatores agregados ao atendimento.”
A Temperança, arcano XIV do Tarô, o arquétipo da harmonia e da cura, nos fornece os parâmetros adequados para quaisquer métricas. Primeiramente é preciso se preparar para oferecer um serviço de qualidade, depois observar os seis primeiros itens deste código de ética, para somente depois, ofertar o seu serviço, o verdadeiro viço do ser; prestativo, respeitoso e com profundo amor. Como nos ensinou Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
Maurício Brito – tarólogo, criador do Tikun Tarô.
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